“Elvis” e a maquiagem que conta uma história

Se você foi ao cinema deve ter reparado que "Elvis" está em cartaz. E, aqui, o que não passou despercebido foi a maquiagem, que dá vida aos personagens como ninguém!

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A maquiagem de Elvis, de Baz Luhrmann, vai além das referências aos anos 60 e se encarrega de tarefas difíceis: representar figuras da vida de Elvis Presley, marcar o tempo da história e dar o ar lúdico – e exagerado, no melhor sentido – do filme. Ale de Souza, nosso expert e maquiador, já fez de tudo – editoriais, programas de TV e até novelas – e é com ponto de partida na sua experiência no audiovisual, que começamos a nossa conversa:

Caracterização de personagens em filmes, novelas e séries

Se em textos quem manda é a descrição, no audiovisual, cabelo e maquiagem apresentam o personagem sem dizer nada – quem não lembra das próteses de Dom Corleone, em O Poderoso Chefão? “Já fiz muitas caracterizações de personagens para filmes e novelas e, em Cordel Encantado, por exemplo, a construção também era lúdica. Esse processo é muito legal porque você tem as referências históricas, mas tem a liberdade criativa para colocar alguma alusão ao momento atual.”

A caracterização  é o ponto de partida para começar a imprimir estado de espírito e traços do personagem, como relembra Ale, do caso da atriz Mari Ximenes. “Em Cordel, nos inspiramos em  Marilyn Monroe. Foi uma construção difícil porque teve corte e descoloração de cabelos e sobrancelhas. Ela teve que virar uma folha em branco, para que em cima fosse construída uma personagem.

 

“Esse processo é muito legal porque você tem as referências históricas, mas tem a liberdade criativa para colocar alguma alusão ao momento atual.”

“Elvis” e a maquiagem que conta uma história

Já a maquiagem de Elvis tinha algumas responsabilidades: replicar visuais icônicos – como a fase de Las Vegas, do cantor, e a maquiagem expressiva de Priscilla Presley – além de passear com o espectador por três décadas diferentes, já que a história transita pelos anos 50, 60 e 70. É também a caracterização que traduz muito da versão teatral – e quase de faz-de-conta – que Baz Luhrmann traz para essa história. 

Ale comenta como tudo é unido em tela e qual o papel da maquiagem ali. “Temos dois pontos: a caracterização fiel ao período, baseada em fatos e imagens – que mantém certa fidelidade dos retratados – e a caracterização lúdica, muito vista em filmes e séries. A direção que Baz Luhrmann escolhe seguir é a lúdica: temos uma história sendo contada, uma biografia, mas de maneira fantasiosa, e esse recurso vem impresso no figurino e na beleza”.

Maquiagem de Elvis Presley

No caso de Elvis, interpretado por Austin Butler, a caracterização no filme é sutil, mas completa. Inclui olhos esfumado – usados pelo cantor na vida real – próteses e perucas, para contar sua jornada, da ascensão à decadência. “Ele pintava os olhos sempre borrados, para dar um ar sonolento, e não escondia o uso da maquiagem, usava ela como um artifício cênico para o palco, muito inspirado em grandes artistas pretos da época”.

Ale adiciona ainda como o visual de Elvis é levemente plastificado – uma referência às ilusões da fama? – sempre muito sensual e carregado das informações de moda, que o marcariam para sempre. “O esfumado rente à raiz dos cílios traz um ar de sensualidade automática, um clássico. Para transformar numa make mais moderna, é só fazer um esfumado leve e hidratar a boca”.

Maquiagem de Gladys Presley

Aparição rápida, mas essencial para a trajetória do cantor, sua mãe, Gladys Presley, traz elementos das atrizes de cinema dos anos 30 e 40 para o visual. “A boquinha de coração borrada e o blush pesado na bochecha – ela parece até parece uma modelo de John Galliano”.

O beauty artist conta também como a maquiagem fica responsável por resumir o estado de espírito da personagem. “É uma figura centralizadora, preocupada com a família e com uma dependência. É uma mulher angustiada, e isso fica claro na make, que me lembrou a de um palhaço, com um rosto feliz pintado mas que, por trás, existe uma pessoa que nem sempre está assim”.

Maquiagem de Priscilla Presley

Um dos rostos da década de 60 e da cultura americana, a maquiagem e o cabelo de Priscilla Presley também colocam a história para frente. “Temos uma Priscilla, bem anos 60, com o visual psicodélico e gráfico usado na época. Duas expoentes ajudaram na popularização desse visual: Veruschka e Twiggy, modelos dos anos 60 e 70”.

Nela, se vê o amadurecimento de uma menina – ela tinha 14 anos quando conheceu Elvis – com os cabelos longos e maquiagem pastel; para uma jovem mulher, sugada pelo glamour que envolvia o mundo do cantor, com o altíssimo topete preto, delineado banana e pares de cílios empilhados. Para, por fim, uma mulher madura que volta às raízes, após o fim do casamento abusivo – momento em que ela resgata o loiro escuro natural. “O caso da Priscilla mostra o quanto a moda e a beleza são cíclicas, já que a maquiagem dela está mais viva do que nunca, com os delineadores gráficos”.

- Por Isabelle Guedes